sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dedicação, amor, força de vontade e disciplina


A equipe do Papo de Bastidor ultrapassou o limite da plateia e entrou de vez nos camarins. Para conhecer melhor a história de um dançarino, entrevistamos Paulo César Silva, paranaense e caçula de uma família de quatro filhos. Com 14 anos Paulo César mudou pra São Paulo e encontrou na religião as primeiras possibilidades de envolvimento com a dança. Hoje, atua como profissional e se prepara para a formatura na Universidade Federal de Viçosa (UFV).


Papo de Bastidor: Como surgiu seu envolvimento com a dança?
Paulo: O interesse pela dança sempre existiu. As oportunidades que não foram muitas. Eu venho de uma família rural que mudou pra cidade quando eu tinha seis anos. Especificamente, meu primeiro contato com a dança foi aos quinze anos na doutrina espírita, onde eu tive uma base de dança contemporânea, de criação livre, expressão corporal, balé clássico, dança de rua e outras. Foi na religião que encontrei um embasamento semelhante ao que eu tive na universidade, mas de forma complementar. Por isso hoje eu percebo cada vez mais que meu trabalhado como pesquisador na universidade serve para complementar toda a minha base adquirida na religião.


Papo de Bastidor: Conte-nos um pouco da sua trajetória.
Paulo: Com 14 anos eu cheguei em São Paulo. Foi lá que eu tive contato com a doutrina espírita e com a dança, por cinco ou seis anos. Eu também sempre fui incentivado pelos meus professores de arte, por causa disso eu decidi trabalhar. Procurei uma academia com a vantagem de ser homem e poder aproveitar bolsas, descontos e um mercado amplo e escasso ao mesmo tempo. Foi nessa época que eu senti um lado interessante da dança, mas que eu não curti, que é a rivalidade e competitividade. Foi aí que eu tive o contato com as primeiras pessoas que se formaram em dança na academia, na Unicamp. A partir daí eu decidi fazer um cursinho pra aprender dança também em uma universidade.

Papo de Bastidor: E como Viçosa entrou na sua vida?
Paulo: Viçosa entrou na minha vida por acidente. Eu procurei todos os lugares pra fazer dança. Em Viçosa, o curso era recente, mas, por não ter passado na Unicamp e ter passado aqui, eu resolvi ficar na cidade, mas por pouco tempo. Cheguei com o intuito de me transferir, mas me adaptei muito bem. Entretanto, tinha em mente algo pontual: ter que me manter na universidade e na cidade sem ajuda dos meus pais. Foi aí que eu tive o contato com o Núcleo Academia de Arte e Dança em 2005. Em 2006 comecei a fazer aulas com a possibilidade de bolsa. Não tive dificuldade de passar nas audições e desde então eu estou no grupo Êxtase como profissional há cinco anos.



Papo de Bastidor: Então, antes de vir pra Viçosa seu currículo já era bem extenso?
Paulo: Eu não diria extenso porque foram cinco anos em contato com a dança religiosa, que muitos não consideram, mesmo na universidade. Portanto meu currículo é duvidoso. Eu diria que eu tive dois anos de contato com academias, o que é mais considerável que os quatro ou cinco anos que eu tive na doutrina espírita. Mas ao mesmo tempo isso foi uma base muito forte pra minha chegada na universidade. Nenhum curso universitário de dança dá base técnica para uma pessoa que não tem. Você pode chegar aqui com a técnica e melhorá-la um pouco, mas isso é ínfimo.

Papo de Bastidor: Então, o curso de dança te prepara pra que?
Paulo: O curso forma pesquisadores. Alguém que pode trabalhar com corpo, iluminação, direção e até como bailarino profissional, mas um bailarino diferenciado, que não pertence a uma companhia que está na moda, que ganha muito dinheiro, mas um bailarino de pesquisa. Infelizmente, uma grande companhia não busca um bailarino que pensa no sentido de questionar, se preocupar com seu corpo, e isso é uma barreira. Independente se você tiver conhecimento ou não, você tem que se adaptar ao mercado. Eu mesmo tive que me adaptar para encontrar meu lugar. Eu busquei abrir o leque e usar todas as possibilidades existentes. Hoje, saindo da universidade, me considero com possibilidades de atuação seguras.


"Infelizmente, uma grande companhia não busca um bailarino que pensa"
 

Papo de Bastidor: É difícil viver da dança?
Paulo: Eu estou satisfeito, mas a satisfação não é total. Eu trabalho a aproximadamente seis anos em Viçosa e não visualizo um mercado amplo que possa suprir as minhas necessidades como profissional. Então há uma satisfação porque eu faço o que eu amo, mas nem tudo que eu amo eu posso fazer. Eu sobrevivo, porém quero viver da dança, e isso é uma diferença muito grande. Há dificuldades? Sim. Mas quando você quer ser bem sucedido em qualquer profissão, tem que ter dedicação, amor, força de vontade e disciplina. É com disciplina que a gente alcança nossos objetivos.



Não perca. Em breve a segunda parte da entrevista com Paulo César Silva, além de vídeos inéditos de apresentações do bailarino.


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